A deputada federal brasileira Erika Hilton (PSOL-SP), uma das duas primeiras parlamentares trans da história da Câmara dos Deputados, denunciou nesta semana um caso de transfobia institucional envolvendo o governo dos Estados Unidos. A parlamentar teve o gênero registrado como masculino em seu visto oficial concedido para entrada no país, mesmo sendo reconhecida legalmente como mulher no Brasil.
Erika havia sido convidada a participar da Brazil Conference at Harvard & MIT 2025, evento acadêmico que reúne lideranças brasileiras para debater temas de relevância nacional e internacional. Sua participação, prevista para ocorrer nesta semana em Cambridge (EUA), foi autorizada como missão oficial pela presidência da Câmara dos Deputados.
Em casos como esse, o protocolo estabelece que o próprio Legislativo brasileiro solicite o visto diplomático diretamente à embaixada do país de destino. No entanto, segundo a equipe da parlamentar, o processo que deveria ter sido rápido e formal foi marcado por obstáculos desde o início, especialmente após mudanças nas diretrizes do governo dos Estados Unidos sob a atual gestão de Donald Trump.
Ainda de acordo com a assessoria, a embaixada chegou a orientar, por telefone, que fosse solicitado um visto de turista, desconsiderando a natureza oficial da missão. Após esclarecimentos, o visto foi finalmente concedido, mas com uma grave violação: no documento emitido no último dia 3, Erika Hilton foi identificada como pertencente ao sexo masculino, o que contraria não apenas sua identidade de gênero, mas também os documentos oficiais emitidos pelo Estado brasileiro.
“É absurdo que o ódio que Donald Trump nutre e estimula contra as pessoas trans tenha esbarrado em uma parlamentar brasileira indo fazer uma missão oficial em nome da Câmara dos Deputados”, afirmou Erika, classificando o episódio como uma demonstração de transfobia de Estado.
A deputada reforçou que em nenhum momento indicou tal informação nos formulários e destacou que, por se tratar de um ato de soberania do governo americano, não há mecanismo jurídico para questionamento direto. No entanto, ela apontou que o caso exige respostas em outras esferas: “É uma situação de violência, de desrespeito, de abuso, inclusive, do poder, porque viola um documento brasileiro. [...] Quando praticada nos Estados Unidos, ainda pede uma resposta das autoridades e do Poder Judiciário americano. Mas quando invade um outro país, pede também uma resposta diplomática, uma resposta do Itamaraty.”
Diante da situação, Erika se recusou a utilizar o documento e não compareceu ao evento para o qual havia sido oficialmente convidada. O caso ganhou repercussão internacional e se soma a uma série de medidas recentes da gestão Trump que têm como alvo a população LGBTQIA+, incluindo restrições a transições de gênero e o banimento de termos como “gay”, “lésbica”, “transgênero” e “LGBTQ” de plataformas governamentais norte-americanas.
A atitude da embaixada americana acende um alerta sobre violações diplomáticas e agressões simbólicas contra representantes eleitas, com base em identidade de gênero. O Itamaraty ainda não se pronunciou oficialmente sobre o episódio.
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